terça-feira, 28 de junho de 2011

Samba do recôncavo de Maracangalha de São Sebastião do Passé

Samba de roda do Reconcavo Baiano São Sebastião do Passé
Subtema: A hereditariedade e o resgate da tradição, memória de uma construção social.
O samba é um gênero musical, de onde deriva um tipo de dança, de raízes africanas surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.

Dentre suas características originais, está uma forma onde a dança é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano e levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que trazidos da África e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, que em 2005 se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco, foi uma das bases para o samba carioca.
Apesar existir em várias partes do país - especialmente nos Estados da Bahia, do Maranhão, de Minas Gerais e de São Paulo - sob a forma de diversos ritmos e danças populares regionais que se originaram do batuque, o samba como gênero musical é entendido como uma expressão musical urbana do Rio de Janeiro, onde esse formato de samba nasceu e se desenvolveu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

Parte do mapa Geográfico

O Município de São Sebastião do Passé está situado no território de identidade Cultural no Recôncavo, apesar de sua localização geográfica ter passado para a Região metropolitana de Salvador, sua identidade cultural se apresenta com muito mais afinidades com as movimentações populares do Samba de Roda, do lindo Amor e do reisado tão comuns no recôncavo baiano. O samba de roda está ligado ao culto aos orixás e caboclos, á capoeira e a comida de azeite. Os grupos de samba de roda são apresentados nos festivais regionais/local (cidade local) como exemplo em festas folclóricas, juninas ou dia de santo, festividade católica.
A manifestação cultural continua presente em vários segmentos artísticos, mesmo tendo seguido novas influencias. O samba de roda de Maracangalha tem sua tradição desde o período *de uma cultura regional* antes mesmo da construção da usina de cinco rios, engenho de 1912. O desenvolvimento da usina é que origina o povoado, com a aproximação dos trabalhadores ao espaço de trabalho.  E após a saída da usina o engenho decai na década de 1920. Não só a afinidade com as manifestações culturais identifica o município, como integrante do recôncavo baiano. Também a sua história, tendo como cenário as usinas e moinhos de cana de açúcar; a ponto de fundamentar a literatura local, através do Livro Maracangalha torrão de açúcar talhão de massapé, do poeta Valdevino Paiva, e a presença marcante das casas de farinhas que produzem o beiju da mandioca, produto gerado por uma agricultura de subsistência desde o início do século XX quando São Sebastião do Passe, ainda não passava de um arraial.
Maracangalha praça do violão.

São Sebastião do Passé tem raízes fincadas na tribo Indígena de Aruaque que se dissipou para dá espaço aos negros trazidos da África. As comunidades quilombolas que transitavam entre a lavoura de cana-de-açúcar e os trabalhos nas usinas povoaram muito antes o Recôncavo baiano. Hoje as influencias dos quilombos ainda são retratadas nas vivencias das tradições dos mais de 30 terreiros de candomblé. O povo sebastianense, na sua estrutura física, na cor da pele, nos hábitos religiosos, nas manifestações culturais, no gingado do jeito de falar e nos modos de produção, está sim, muito mais afim com municípios como São Francisco do Conde e Santo Amaro da Purificação do que com municípios como Candeias e Camaçari. O samba de roda é a mola mestra da nossa cultura e da cultura do recôncavo e dessa forma nos identificamos e encontramos nossa identidade.

Samba
O samba tem o papel de denominador comum da cultura popular do recôncavo.
“no recôncavo, o samba sem dúvida tem uma posição especial. É significante a ligação que o samba consegue entre todas as faixas etárias e entre os sexos...”
Samba
 Samba chula, de parada, amarrado ou de viola; com diferenças maiores, são chamados de barravento. Mas é usado, por convenção, o nome samba chula em referencia do segundo tipo em questão.
Samba Chula
Uma das diferenças entre samba corrido e samba chula se referem ás relações entre música e dança. No samba chula, a dança e o canto nunca acontecem ao mesmo tempo, estando os toques dos instrumentos presentes nas duas atividades, enquanto no samba corrido, ao contrario dança canto e toques acontecem simultaneamente.
No samba chula apenas uma pessoa de cada vez samba no meio da roda; enquanto no samba corrido podem sambar uma ou várias pessoas ao mesmo tempo no meio da roda. Os músicos expressam a diferença dizendo em outras palavras, que o samba corrido é mais livre mais progressivo, ao passo que o samba chula é mais exigente, mais rigoroso.
Canto: a principal parte cantada é chamada justamente de chula. É adjetivo português que quer dizer vulgar ou grosseria. No Brasil há existência de chulas não só na Bahia, mas no Rio Grande do Sul, Amazonas e São Paulo.
Em relação aos cantadores/sambadores dois cantam a chula e dois respondem o relativo, e as mulheres, tendo a quantidade que tiver responde também ao relativo. O relativo é uma estrofe cantada que se constitui numa espécie de resposta á chula, correspondente com a que foi perguntada.
O que é o relativo?
“o relativo é uma segunda chula que no final combina com a chula”
Pedro dos Santos, Maracangalha
Instrumentos: o uso da viola, no samba de roda Chula é mais importante do que no samba corrido, sendo que nos dois tipos podem ocorrer com ou sem viola, mas é no samba de chula que a viola é fundamental. A exemplificarmos com a seguinte informação: um sambadeira entra na roda, as vozes se calam e passam a caberá viola... Ou seja, a viola toca;
O ritmo: a estrutura rítmica do samba de roda é bastante facilitadora com uso de pandeiros, pratos e facas além de chocalhos, reco-recos.

Musicalidade: a música popular, num sentido amplo, vem sendo reconhecida há muito como um campo privilegiado da expressão cultural no Brasil.
Nos anos 1930 o samba teve grande expressão ele é dança, musica e poesia é inclusive teatro, posto que apresente cenário, indumentárias e papeis a serem desempenhados...
A utilização dos instrumentos com viola, Re maior e La maior, pandeiro, prato e faca além do uso das palmas equivalente a tipo de instrumento importante para a composição musical e a utilização das vozes grave agudas.
O ritmo da chula é caracterizado por antecipações e retardamento das batidas.
Pandeiro, “boca de banco”, passagem de viola, baixão e timbal alguns instrumentos relacionados com o samba.
A musica do samba de roda inicialmente associada ao candomblé, e também a cânticos de louvores aos santos pela festividade católica traz elementos essenciais para a formação da roda de samba. A roda de samba é uma dança circular acompanhada de cantos, geralmente realizada fora de casa em metro binário simples, ritmo quadrado e em acompanhamento moderado de marcha.
As pessoas no samba vão se revezando na roda e nos instrumentos musicais, a reza e o samba “juntos”, pois os negros utilizavam como forma de agradecimento aos deuses e também como diversão. A magnitude do valor do samba de roda como bem cultural reside em seu conjunto material e imaterial da cultura popular brasileira.
“[no samba de roda você vê que algumas musicas são musicas são cantigas de roda, a gente canta até umas músicas que são entradas nos terreiros pelos caboclos (...) e até a gente faz trovas também, poesias, versos.
O samba de roda é resultado de um processo de trocas interculturais. O samba de roda foi também fonte de inspiração para alguns dos  compositores profissionais que fazem a gloria da moderna musica popular brasileira, como Dorival Caymmi, Geraldo
Pereira, Caetano Veloso.Nos dias atuais, o samba de roda tem inspirados compositores como Roberto Mendes, Raimundo Sodré, dentre outros grupos e compositores contratados por grandes gravadores, como alguns ligados ao axé music.
A sambista Edith do Prato e o CD vozes da Purificação ganharam o premio Tim musica popular brasileira na categoria regional.
Um dos desafios para o samba de roda é o prestigio da moderna musica popular, que tem levado muitos jovens a acreditar que o samba de roda é uma diversão de velhos, ultrapassado e fora de moda. Além disso, há um enfraquecimento ou até mesmo desaparecimento do instrumento mais apropriado para seu desempenho: as violas de samba e entre elas, especialmente, o machete.
A falta de instrumento, perdendo algo de grande importância para a manutenção do samba de roda. O samba é um gênero primitivo, cantado e cultivado pelas baianas antes do aparecimento do samba propriamente dito no Rio de Janeiro na década de 1910.
A percepção atual de uma parte significativa dos sambadores do recôncavo á a de que seu samba de roda é desvalorizado pela sociedade, isto equivale também para o descaso com o samba de roda por parte de instancias locais, quer da parte da sociedade civil, quer políticas, educacionais e culturais. Entretanto não atingindo a todas, pois, a cidade de São Sebastião tem um projeto que busca viabilizar o samba do recôncavo não só apenas em sua região, mas no entorno com a criação do espaço cultural com o tombamento da usina de cinco rios que já esta em processo, tornando-se um espaço de memória tanto da culinária, a exemplo da maniçoba ao samba de roda, com grande potencial turístico, fomento do samba.  Já citado anteriormente na pesquisa.
 Outro entrave é a falta de acesso ao material produzido por pesquisas feitas com os sambadores queixa dos mesmos.
(...) hoje não se ouve samba de origem e sim ouvimos difundido o pagode porque toda garota hoje gosta de pagode, mas só que o verdadeiro samba esta com as pessoas que viveram a cinqüenta anos, que não tinha outro tipo de diversão.

                                             (Músicos)
(“...) então estão deixando morrer as culturas dessas pessoas simplesmente pelo fato de não estarmos passando para as gerações futuras”
Paulo César F. Santos, Maragogipe
IDENTIDADES CULTURAIS-BREVE PERFIL

Suas festas populares são marcadas pelas datas festivas: 20 de Janeiro – Dia do Padroeiro, 24 de junho – São João, 29 de julho- São Pedro em Maracangalha, agosto- festa do folclore, 16 de agosto-Festa de são Roque na sede e 12 de outubro- aniversário daemancipação política da  Cidade.

Possui vários escritores dos mais diversos gêneros literários desde a prosa de Valdevino Paiva à poesia de Matheus Lago e Suely Nascimento e as dramaturgia de Hálison Ribeiro que relata o acidente do avião com dinheiro- fato histórico ocorrido em Maracangalha e divulgado no mundo todo e a dramaturgia didática de Cátia Garcez voltada para arte-educação.
Outros preferiram manter-se fieis até a morte como foi o caso do famoso “Cara Ingrata”. O choro ainda persiste através da resistência de “Tornado” e seu conservatório de musica que atende os jovens e velhos instrumentistas da cidade. Outros migraram para o samba de roda, como foi o caso de “Seu Raimundo” com o samba de roda de Araçatiba. “Seu Pequeno” da sede e “Seu Pedro” de Maracangalha vivem em função da preservação e valorização do samba chulo tão comuns ao recôncavo e que agora foi reconhecido como patrimônio imaterial da humanidade.
O município possui dois espaços adaptados para apresentações cênicas: A Casa da Cultura Maestro Manoel Gomes e o anfiteatro da Escola ACM no distrito de Nazaré de jacuípe, os dois subutilizados pela falta de pessoal para que seja disponibilizado para a comunidade.

Esses mesmo grupos trabalham voluntariamente em três eventos cênicos: A festa do Folclore que já há mais de 10 anos quem faz a abertura são os atores e dançarinos da cidade coordenados pelo coreografo Dénison; O Cortejo junino que acontece como abertura da festa do São João na cidade, organizado pelo Departamento de cultura nas pessoas do ator de Geraldo Brito e atriz Iriane Santana e por último a Paixão de Cristo que reúne em média 50 atores todos os anos para representar a saga de Jesus Cristo em Praça Pública no período da semana santa. A dança no município era representada pelas quadrilhas juninas e as coreografias típicas dentro das manifestações culturais como o lindo Amor e o reisado.

Entrevista sobre o samba, com o diretor de cultura Alberto Valente de São Sebastião do Passé:
O samba de roda é uma manifestação popular, criado por escravos dos engenhos como forma de diversão ou culto a sua origem, não há envolvimento político. O poder público entra como fomentador da cultura (departamento de cultura) com divulgação, transporte, apoio logístico, possibilitando acontecer.
Com o passar dos tempos mudou a cultura religiosa não tendo a mesma disponibilidade em que os negros pudessem cultuar sua cultura-mãe. Houve uma adequação social para o samba de roda, uma nova roupagem das musicas. Isto ocorreu devido à necessidade de aproximação dos jovens, para a manutenção do samba de roda já que muitos não querem participar seja por que achem “caretice” por isso foi necessário adaptar com outros movimentos musicais.  
Há uma diferenciação entre o samba de roda carioca e o baiano?
O samba de roda é festejado em micareta, dia de santo e terno de reis. Nos meses de Setembro e Agosto nas festividades de são roque e são Cosme, folclore.
A manutenção do samba de roda depende de vários fatores, pois alguns acontecimentos afastam seus membros de prosseguirem com a tradição a exemplo de falecimentos de alguns deles, já que muitos são da terceira idade, ou ate mesmo porque seguiu uma nova denominação religiosa, a evangelização que não permite que continuem a cultura do samba de roda. Há grupos de samba de roda de Araçatiba, Maracangalha e Agostinho do Amaral.
 "Os costumes mudam..."
Momento histórico:
 Na segunda metade do século XIX, houve uma rebelião escrava a revolta do malês e por isso os negros sofreram uma punição dos patrões senhores de engenho “os barões” "carrascos do recôncavo” que proibiram os escravos de dançarem o samba de roda.  Havia os quilombos de Sapucaia, Quibaca, os núcleos de engenho escravocata, os negros da senzala utilizavam o samba de roda nas festividades de 08 de Dezembro Nsrª de Conceição e outras festividades católicas.
O samba de roda é símbolo de afirmação e permanência do negro na sociedade. O conjunto de valores com identidade, afirmação, religiosidade permeiam a cultura do samba de roda De Maracangalha. 
Nos primeiros engenhos teve grande presença africana em são Sebastião do passe, onde os lundus, cânticos e musicas africano entoavam a festividades durante ou após os trabalhos. Muitos coronéis permitiam que seus escravos dançassem e cantassem, pois para eles após um dia de festas os escravos trabalhariam muito mais dispostos.
Pedro evangelista é um dos mais antigos sambistas de Maracangalha
 “O grupo de samba de roda é constituído por natureza” a formação dos grupos é feita por amor a tradição.

Algumas das ações para permanência do samba de roda segundo o Sr Alberto Valente diretor de cultura de são Sebastião é o tombamento da usina de cinco rios que já esta em processo, tornando-se um espaço de memória tanto da culinária, a exemplo da maniçoba ao samba de roda, com grande potencial turístico, fomento do samba.
A falta de infra- estrutura é um dos motivos que fazem com que o samba de roda seja menos valorizado. A valorização do espaço é uma forma de sobrevivência da cultura do samba de roda.

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Referencias:

Mídia  DVD grandes fazendas
Cursos: conversando com sua história debate e analise de temas históricos da Bahia 9ª edição 2011 Fundação Pedro Calmon/secult
V semana da áfrica Tema Bahia, evento promovido pela associação dos estudantes africanos na Bahia.
Iº seminário interinstitucional: Desenvolvimento local e regional: estudos interdisciplinares sobre a Bahia.
Jornal do povo  de São Sebastião  do Passé  Ba
Paim, Zilda;  Relicário popular  
Revista brasileira de folclore, 35 jan –abril 1973
Entrevista com o historiador e diretor de cultura do município de São Sebastião do Passé




Arquivo  Público Municipal  de São Sebastião
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